Vivemos em um mundo bombardeado por
informações veiculadas por jornais, revistas, TV e internet. E sem dúvida
alguma, a internet foi um dos maiores inventos tecnológicos no que diz respeito
a este quesito, tanto é que este período é também conhecido como “Era da
Informação”. Contudo, apesar do grande fluxo de dados, a reflexão sobre os
fenômenos e acontecimentos relevantes para a sociedade, de modo geral, não são aprofundados,
o que geralmente acontece é um acúmulo de informações que não são “digeridas”,
pois não se há tempo para tal. Dessa forma, são facilmente esquecidas. Mas, é
importante ressaltar que as intencionalidades da grande mídia também é um fator
agregado a esse fenômeno, dado à importância com que alguns assuntos são
reportados (quando reportados), haja vista, por exemplo, o grande desastre
ecológico que ocorreu recentemente em Mariana e que pouco se ouve falar a
respeito.
Essa quantidade de informação
demonstra a dinamicidade social em que vivemos, não sendo restritas apenas à
informação, mas podemos ampliar e pensar o quão rapidamente substituímos ou
adiamos relações e processos afetivos, emocionais, sociais, políticos ou
comerciais com finalidade apenas de satisfação instantânea. Esta frequente
mudança, segundo Zygmunt Bauman (2004), é o que caracteriza “o líquido cenário
da vida moderna”, governado pelo desejo em detrimento do amor.
O amor, de acordo com Bauman, é “vontade de cuidar, e de preservar
[...] Mas também pode significar expropriação e assumir
responsabilidade”. Em contrapartida, o desejo “é a vontade de consumir.
Absorver, devorar, ingerir e digerir – aniquilar”. Contudo, o desejo precisa
ser cultivado, o que demanda tempo, impondo assim, o adiamento da satisfação.
Nesse mundo líquido,
regido pela velocidade e aceleração, esperar é um sacrifício detestável e no
quesito consumo, esta barreira pode ser superada com o surgimento dos cartões
de crédito, por exemplo, reforçando a cultura do consumo, e assim as pessoas
passam a agir por impulsos, através do surgimento de falsas necessidades.
No entanto, suprir a
demanda de consumo tem se tornado insustentável ao planeta, pois a prática de
consertar ou reutilizar os produtos vem sendo deixada de lado cada vez mais. As
mercadorias em perfeitas condições de uso são rapidamente trocadas por outras
após o surgimento de uma nova versão aperfeiçoada. Isso sem contar o uso
crescente de materiais descartáveis com a justificativa de praticidade e “ganho
de tempo”. Essa busca por mudanças, agilidade e movimento constante, nos
definem como “habitantes do líquido mundo moderno” (BAUMAN, 2004). Ou seja,
nossos hábitos exigem cada vez mais da natureza, não permitindo a esta o
tempo necessário para a sua regeneração.
Nessa perspectiva, a educação é uma
alternativa para esse modelo, e cabe à educação ambiental participar do
processo emancipatório dos indivíduos, nutrindo uma reflexão crítica com
relação a estrutura social estabelecida a fim de alterar padrões e valores para
que caminhemos para sociedades mais sustentáveis. Assim, uma forma para essa
transformação é a sensibilização e o autoconhecimento, elementos de uma
educação ambiental complexa, que compreende uma visão integrada do mundo, de
modo que considera a qualidade de vida para todos os seres vivos.
À vista disto, Paulo Freire traz alguns pressupostos que contribuem com
o processo de busca de emancipação e percepção do indivíduo como integrante do
meio ambiente tendo em vista sua inserção crítica nessa realidade. Dessa forma,
torna-se capaz de identificar problemáticas de seu entorno para que atue como
agente transformador dessa realidade. Contudo, dentre seus pressupostos,
gostaria de destacar o amor como ato de liberdade e como fundamento do diálogo no
processo de ensino-aprendizagem, tendo em vista a relação de amar trazida por
Bauman:
Amar é
contribuir para o mundo, cada contribuição sendo o traço
vivo do eu que ama. No amor, o eu é, pedaço por pedaço, transplantado para o
mundo. O eu que ama se expande doando-se ao objeto amado [...]
Dessa forma, a Educação Ambiental
pautada na solidariedade, na amorosidade e na participação - que são
fundamentos da emancipação - é um caminho contrário à ideia e representação do
mundo líquido em que vivemos. Tornando possível a criação de relações de
afetividade e sentimento de pertencimento como elemento integrante da natureza,
constituindo assim, uma visão ecossistêmica, holística.
Daniele Bispo
Referência Bibliográfica
BAUMAN, Z. Amor
líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Ed., 2004.LOVATTO, P. B.; ALTERMBURG, S. N.; CASALINHO, H.; LOBO, E. A. Ecologia profunda: o despertar para uma educação ambiental complexa. Redes, Santa Cruz Sul. v.16, n.3, p.122-137. 2011
Brasil, Ministério do Meio Ambiente. Identidades da educação ambiental brasileira. Brasília, 2004. 156 p
Para Refletir
O que é meio ambiente?
https://www.youtube.com/watch?v=suJugh8-cts
Nota
Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, escreveu diversas obras sobre esse
mundo pós-moderno, denominado por ele de “Mundo Líquido”, termo foi tido a
partir da ideia retirada de uma das frases mais conhecidas de Marx “tudo que é
sólido desmancha no ar”.
Referencia Imagem: https://www.google.com.br/search?q=mundo+l%C3%ADquido&biw=1920&bih=935&source=lnms&tbm=isch&sa=X&sqi=2&ved=0ahUKEwi8rdb21prLAhWKlZAKHbCxABMQ_AUIBygC#imgrc=4GX26VzJ3bOW9M%3A
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