20 de março de 2017

A Ressaca Ambiental do Carnaval

 Após um grande período de diversão e prazer regado de bebidas alcoólicas, muitos experimentam um mal-estar posterior, popularmente conhecido por ressaca.

Enquanto para uns essa palavra remete somente a fadiga e dor de cabeça, depois de um contexto festivo, podemos extrapolar o uso dessa palavra para fazermos uma comparação em uma perspectiva maior, como por exemplo, com relação ao meio ambiente depois da folia de carnaval, haja vista o saldo negativo final oriundo dessa festividade.

O principal ponto de destaque que deve sempre ser lembrado é a quantidade de resíduos encontrados em sambódromos, blocos, festas de rua e bailes: 700 toneladas de lixo nas ruas do Rio, entre a sexta até a Quarta de Cinzas, 1800 toneladas em Salvador e 643,3 em São Paulo. “De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, a quantidade de resíduos recolhidos após a festa aumenta 40% a cada ano.” (1)

Tal impacto possui uma dualidade interessante, pois é capaz de gerar renda para
trabalhadores de cooperativas de reciclagem e para catadores de resíduos sólidos, como é o caso do bloco dos catadores no Rio, que conseguem em um dia “bom” recolher 1 tonelada de alumínio (latinhas) que corresponde a R$ 3800,00. Mas não se compara aos grandes danos ambientais causados em lençóis freáticos, praias, oceanos, biomas locais e na própria cidade. A limpeza das ruas de São Paulo necessitou de 2.394.000 litros de água e 26 mil litros de desinfetante.

Felizmente há ações conscientes para diminuir impactos, como é o caso da Secretaria da Cultura e Meio Ambiente de Tremembé (São Paulo) que depositou recipientes para coleta de resíduos orgânicos e inorgânicos em toda a extensão do evento, para que a população enxergue a importância de praticar sustentabilidade não somente em sua rotina, mas em suas vidas pessoais. A destinação dos resíduos gera renda para empresas do setor de reciclagem e contribui para a Horta Comunitária da cidade.

 Além disso, o bloco carnavalesco “De Olho no Lixo da Folia” promoveu uma iniciativa socioambiental, repensando as fantasias utilizadas em seus desfiles devido a grande exploração animal na confecção dos trajes. Aves como o faisão, pavão, ganso e avestruz são maltratadas a partir de métodos dolorosos para o ganho de penas e plumas. É um mercado que movimenta muito dinheiro, visto que uma pena de faisão pode custar R$ 100,00.  Para evitar isso, caixas de leite foram transformadas em máscaras carnavalescas, faixas usadas nos Jogos Olímpicos foram transformadas em abadás e discos CDs se transformaram em criativos enfeites para a cabeça.”(2)

 Alguns municípios como Bezerra, Pesqueira e Triunfo, todos de Pernambuco sofreram com a problemática do abastecimento de água. São lugares que possuem tradição de carnaval, mas estão com nível de água reduzido, fazendo com que as cidades alertem os turistas (cerca de 250 mil) para a conscientização do consumo.

Um tema que também chamou atenção é o uso de glitter e purpurina que ressaltaram a questão do microplástico. Feitos de copolímeros de plástico e folículos de alumínio, esses elementos se tornam prejudiciais ao meio ambiente, principalmente por se somarem a outros componentes poluentes que acabam parando nos oceanos que terminam servindo de alimento aos peixes. É interessante notar que a presença dos microplásticos contribui com uma quantidade relevante de 236 mil toneladas métricas que alcançam os oceanos, sem mencionar o elevado tempo de decomposição. Mas não é somente o glitter que contribui com poluição: “para saber se outros produtos do dia a dia são compostos de microplástico, atenção aos rótulos. Se houver a palavra polyethylene ou polypropylene, quer dizer que há microplástico ali.”. (4) Existe a alternativa de glitter comestível ou do biodegradável, porém há novamente uma questão econômica por trás: “a diferença nos preços, no entanto, desanima muitas pessoas dispostas a aderir ao glitter comestível: potes de apenas 3 gramas podem chegar a R$ 10.” (3)

Frente a todas as questões apontadas, resta o próprio discernimento de nos enxergamos como agentes de mudança ou do próprio caos em nossa vida pessoal e coletiva e também de reconhecer o quanto podemos utilizar o discurso de benfeitores de nossa localidade quando deixamos passar questões socioambientais como é o caso do grande evento que é o carnaval, sem ter noção do quanto nossos próprios atos podem impactar. Que possamos aproveitar e curtir os eventos da vida com responsabilidade.

Walmir Jun

Referências Bibliográficas
(1)  http://www.ambiente.sp.gov.br/2017/02/21/carnaval-dicas-para-cair-na-folia-com-minimo-impacto-ambiental/
(2)  (http://www.jb.com.br/carnaval-2017-rio/noticias/2017/02/18/reciclagem-do-lixo-e-tema-de-bloco-de-favela-do-rio/)
(3)  http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/economia/noticia/2017/02/12/glitter-a-moda-que-virou-negocio-no-carnaval-em-2017-270417.php
(4)  http://www.opovo.com.br/jornal/dom/2017/01/o-brilho-colorido-do-glitter-e-a-polemica-de-pre-carnaval.html

Fonte Imagens

http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2017/03/lixo-do-carnaval-vira-dinheiro-na-mao-de-catadores-no-rio.html
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/carnaval/2017/noticia/comlurb-retira-700-toneladas-de-lixo-das-ruas-do-rio-no-carnaval.ghtml
(http://www.jb.com.br/comunidade-em-pauta/noticias/2017/03/02/carnaval-e-lixo-nao-combinam/)
(http://www.tremembe.sp.gov.br/2017/02/coleta-consciente-de-lixo-no-carnaval-de-tremembe-2017/)
http://www.anda.jor.br/23/02/2017/conheca-a-exploracao-animal-por-tras-das-fantasias-de-carnaval

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