22 de abril de 2014

O desafio da erradicação dos lixões

A Lei 12.305/10 que fundamenta a Política Nacional de Resíduos Sólidos estabelece um prazo de quatro anos para a eliminação e recuperação de todos os lixões do país. Ela foi sancionada em 2 de agosto de 2010, ou seja, o prazo já está acabando! Será que a meta vai ser atingida? Ainda há muito a se fazer? Quais as medidas a serem tomadas?


Com a erradicação dos lixões, todo resíduo que não pode ser reciclado ou reutilizado deverá ser destinado a aterros sanitários, então, primeiramente, vale apontar as diferenças entre os dois.
Em síntese, um lixão se define como um grande terreno a céu aberto, onde o lixo é simplesmente depositado sem qualquer preparação prévia ou tratamento posterior, o que leva à liberação de metano – gás poluente, de odor desagradável e proveniente da decomposição de matéria orgânica – para a atmosfera e à contaminação do solo e lençol freático pelo chorume, além de atrair animais como ratos e urubus para o local.
Já o aterro sanitário constitui uma verdadeira obra de engenharia, com mantos de impermeabilização no solo e sistemas de captação de metano, que pode ser usado para gerar energia. Outra modalidade de deposição de resíduos é o aterro controlado, que é basicamente um lixão, mas com o lixo coberto com camadas de terra ou argila e gramíneas, o que pode minimizar o mau cheiro e a proliferação de animais, porém não há qualquer sistema de impermeabilização do solo ou captação de metano e chorume.





            Para a eliminação dos lixões, a primeira medida a ser tomada é a desativação, ou seja, a proibição da deposição de novos resíduos no local, além de não permitir a entrada de animais e catadores. Então, é necessário o isolamento da área, que pode incluir o desvio de águas fluviais e a captação do chorume. Para a retirada dos resíduos enterrados, que também faz parte dessa etapa, existe uma técnica chamada mineração de lixões, na qual os lixos são retirados e separados em diversos componentes através de maquinário moderno. Essa tecnologia tem uma série de vantagens, saiba mais em http://www.portaleducacao.com.br/educacao/artigos/19450/a-mineracao-de-lixoes#!3 . Por fim, segue-se a fase de descontaminação do solo e do lençol freático.
            Para cada uma das etapas descritas acima deve ser dedicado muito estudo prévio e investimento por parte de profissionais de diversas áreas além, é claro, de análises posteriores para garantir que o local foi, de fato, recuperado. Ou seja, pode ser um processo muito longo para ser concluído em quatro anos e, certamente, lixões onde ainda não se iniciou o processo de erradicação não serão recuperados até agosto.
Os números oficiais mais recentes divulgados sobre a questão pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) são de 2008 e, apesar de apontarem uma melhora se comparados aos valores de 2000, como ilustrado abaixo, pouco nos informam sobre a situação atual.

            Mas, todo esse trabalho de erradicação é o suficiente para mitigar o problema dos resíduos sólidos? O artigo 9º da Política Nacional de Resíduos Sólidos prevê como ordem de prioridade na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos: 1. Não Geração, 2. Redução, 3. Reutilização, 4. Reciclagem, 5. Tratamento, 6. Disposição Final. Ou seja, a disposição em aterros só deve ocorrer em última instância!
Agora... como fazer com que esse cenário de prioridades se torne parte do dia-a-dia? A chave é, com certeza, a educação da população! Só mudando nossos hábitos de consumo e descarte diários é que serão produzidas reais melhorias. Isso, é claro, deve ser acompanhado pela capacitação e inclusão social dos catadores de materiais recicláveis e desenvolvimento de novas Cooperativas e Usinas de Triagem e Reciclagem, que por sua vez dependem de uma população devidamente sensibilizada pela causa e instruída que possa pressionar os governos a investir no setor.

Nicole Pinotte Rodrigues




Imagem 3: Joyce Ferreira de Carvalho, em aula da UC Gestão Ambiental ministrada em 06/02/2014 para o 8º termo do curso de Química, UNIFESP. Fonte dos dados: IPEA.

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