20 de dezembro de 2015

Festa no Céu: uma Reflexão Sobre Tradições

Recentemente, assisti ao filme “Festa no céu” (título original “The book of Life”) dirigido por Jorge R. Gutierrez. Achei o filme super divertido e impressiona com o colorido de cada cena, sendo não apenas para as crianças, mas para a família inteira.
A história central se desenrola dentro de uma primeira história, quando uma guia de um museu conta às crianças uma das histórias do Livro da Vida, onde Manolo, Maria e Joaquim compõem um triângulo amoroso. Sendo este triângulo alvo de uma disputa de La Muerte (Catrina) e Xibalba, representando a terra dos lembrados e a dos esquecidos, respectivamente.
Como a maioria dos filmes, particularmente os hollywoodianos, a construção da história sob a perspectiva do espectador é previsível, visto à presença de itens “clichês”, como por exemplo, com o triângulo amoroso e de duas figuras marcantes, onde se observa a representação manequeísta do bem e do mal. Porém, dois personagens me chamaram a atenção, Maria e Manolo.
Maria é forte e independente, sendo uma das personagens mais incríveis pela desconstrução de submissão, a qual é normalmente atribuída às personagens de gênero feminino. Desde nova demonstra sua preocupação com os animais, protagonizando uma das cenas divertidas, onde liberta todos os animais de suas jaulas, pois sente dó de um porco, que mais tarde seria seu animal de estimação. Maria incita o ideal do direito intrínseco à vida dos animais, sendo, também mais tarde, contra as touradas.
Manolo é o mais novo representante de uma família inteira de toureiros, sendo pressionado a seguir a tradição da família. Porém, o jovem alimenta paixão pela música. Em sua primeira apresentação, se nega a matar o touro e ainda acrescenta que: “matar o touro é errado!”, impressionando sua amada. Este personagem me interessou pelo valor que atribui ao animal, mesmo que a não execução dos touros o torne uma vergonha para a família. Sua real intenção pode ser contestada, já que é implícito que tal ação agradaria a Maria.
A desconstrução destes personagens torna a trama mais interessante, pois determinadas ações não podem ser premeditadas pelos espectadores e os instigam a acompanhar o desenrolar da história. No confronto final, Manolo prova sua coragem e valores, ajudando sua cidade e conquistando Maria.

A trama está baseada principalmente na tradição do Dia dos mortos (Día de los Muertos), que ocorre dia 2 de novembro, como homenagem àqueles que já morreram. O que me faz perceber o conflito de determinadas tradições com a conservação do meio ambiente e seus componentes, como a fauna e a flora. Um exemplo disto é a tauromaquia, que consiste na “Arte de tourear, a pé ou a cavalo, em tauródromo.”², onde a tortura dos animais se torna prazerosa, sendo tal “arte” alvo de diversas críticas, sendo 80% dos mexicanos contra a prática³, contando com um público cada vez menor, comumente de pessoas mais velhas. 
Apesar de o filme exibir itens voltados à reflexão de valores e atitudes, parte dele me pareceu conflitante, onde a visão apresentada anteriormente pode ser classificada como globalizante, segundo a classificação de Reigota (1995)5. Houve cenas em que a tendência naturalista e a antropogênica ganharam destaque, como quando Manolo e Maria saem da cidade e estão diante de uma paisagem isenta de elementos antrópicos, indicando que o ser humano é um observador externo em relação à natureza; e relacionado à visão antropogênica, temos a seguinte afirmação: “ele será um matador”, sendo ditas pelo pai de Manolo, referindo-se a necessidade de matar o touro para honrar sua família.
Assim, encerro minha reflexão e convido-os a analisar este filme criticamente e, paralelamente, contestar as tradições e seus reais significados, relacionando-os aos valores atribuídos a qualquer forma de vida. 
 
Aline Vicentin


¹http://www.festanoceu-filme.com.br/
²http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=tauromaquia
³http://g1.globo.com/natureza/noticia/2014/02/protesto-no-mexico-pede-fim-das-touradas-no-pais.html
4http://cescobarecheverri.blogspot.com.br/2015/05/en-contra-de-la-tauromaquia.html
5REIGOTA, M. Meio Ambiente e representação social. São Paulo: Cortez, 1995.
6http://www.guiadasemana.com.br/cinema/filmes/sinopse/festa-no-ceu
7http://cinepop.com.br/wp-content/uploads/2014/10/CinePOp-2.jpg

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