9 de novembro de 2016

NATUREZA À VENDA: APROVEITE A OFERTA


Era uma quinta feira a tarde. Parada no semáforo, reparei que o rapaz que entregava folhetos, ignorava as pessoas da faixa de pedestre, direcionando a oferta do produto apenas aos motorizados. Aquela situação me intrigou, assim resolvi chegar mais perto para ver do que se tratava. Este oferecia condomínios verdes, prometendo a natureza ao morador. O folheto dizia em letras grandes: “Atenda o chamado da natureza”, possuímos um “Espaço zen”, “Bosque”, “Espaço Gourmet”, “Cascata e lagos com gansos e peixes”, “Pista de bicicross” e “vias que pouco agridem a topografia natural do lugar”.


Toda essa propaganda me fez refletir sobre o que é a natureza e como nos relacionamos e a ressignificamos. Neste processo a publicidade tem um papel importantíssimo, pois se encarrega de tornar a “natureza” como elemento atrativo de um produto (um condomínio), reduzindo-a a uma mercadoria passível de ser consumida. E assim como qualquer produto no mercado, este anúncio tem o seu público alvo e neste caso, dificilmente estaria parado na faixa de pedestre. Foi aí que entendi a distinção.

A ideia de natureza como objeto não é recente. Com o início da expansão marítimo comercial juntamente com a criação de aparatos técnicos que permitiram o uso predatório da dela, bem como a apropriação privada das terras com a política de “cercamento”, configuraram o uso dos recursos naturais segundo a lógica utilitarista, como um meio fundamental para o desenvolvimento econômico. Ou seja, a natureza passou a servir como base para exploração segundo os desejos da sociedade moderna, de modo antropocêntrico.
Desta forma, a relação Homem-Natureza adquiriu um novo sentido, uma vez que no princípio esta se dava de forma harmônica, pois o ser humano utilizava apenas aquilo que a natureza lhe dispunha, assim eram poucas as alterações na dinâmica natural. Nesse contexto, o se humano era também um componente do meio natural e não dissociado dele. Porém, a partir dessa nova concepção de natureza, novos valores foram atribuídos a ela, dentre eles a ideia de natureza como mercadoria e fuga dos problemas gerados a partir lógica capitalista e do modo de vida euro-ocidental.


No período da Revolução Industrial em que surgiu e expandiu-se o número de fábricas problemas foram gerados como, por exemplo, o excesso de poluição, a aglomeração de pessoas que também desencadearam vários problemas entre eles o estresse. Assim, as pessoas já buscavam fugir dos problemas urbanos por meio da sua reaproximação com a natureza, todavia, diferentemente do passado, hoje se tem em mente a imagem de natureza vendida pelos empreendimentos, que é paisagismo e não de natureza natural. Isso porque a propaganda tem esse papel de iludir o consumidor. Sobre isso, dois pontos podem ser observados: a transformação da natureza em produto e a ideia veiculada que se criam sobre o conceito de natureza. O acesso à “natureza” assim como no século XVIII continua sendo um privilégio para poucos, pois esses condomínios são caros e atendem, portanto, apenas um determinado público dentre toda população, evidenciando assim, a desigualdade social que perdura nos dias de hoje.


Essa cena no semáforo foi importantíssima, pois assim pude associar informações das quais eu já havia pesquisado antes e agora podendo contextualizar com a realidade. Assim, percebi que o modo de apropriação da natureza não mudou muito desde que passamos a utilizá-la de forma predatória, podendo transformá-la num objeto segundo nossos próprios interesses que estão vinculados à ideia de acumulação e consumo.


É sobre essa problemática que resolvi trazer a reflexão, mas é importante ficar atento quanto tudo aquilo que nos é posto, tendo consigo uma visão crítica para que se possa enxergar as múltiplas facetas da realidade e assim não se deixar enganar.


Daniele Gomes Bispo


Colaboração de Tiago Gomes de Almeida


Obs.:
Todas as frases de propagandas são verdadeiras e foram encontradas na internet, sobretudo em alguns vídeos.


https://www.youtube.com/watch?v=U582U2WXGPY


https://www.youtube.com/watch?v=rFRrJj1RAWM

Nenhum comentário:

Postar um comentário