Por ter sido uma colônia, o Brasil teve seu desenvolvimento pautado na
elevada exploração de seus recursos naturais para geração de riquezas, o que
afetou diretamente na estruturação de seus ciclos econômicos. Consequentemente,
o processo de industrialização e urbanização foram regidos pelos detentores de
capital, o que também afetou o desenvolvimento das cidades, destacando-se ainda
que esse espaço sofreu grandes mutações sociais, econômicas e políticas.
A cidade contemporânea, portanto, é regida pela dinâmica capitalista e seus
principais agentes promotores: "proprietários dos meios de produção
(sobretudo os grandes industriais), proprietários fundiários, promotores
imobiliários, o Estado e os grupos sociais excluídos". [1] Direta e
indiretamente, os agentes com maior poder aquisitivo contribuem para a formação
de um espaço desigual, pois há uma concentração de renda consubstanciada pelo
Estado e mercado imobiliário em determinados bairros privilegiados, chamados
espaços luminosos: "zonas consideradas interessantes do ponto de vista do
capital que são alvo de grandes obras, como: implantação de áreas verdes,
espaços de recreação, shoppings, parques urbanos dentre outros que venham
agregar valor ao solo urbano" [2]. Dessa forma, o preço de terrenos se
expande e estimula a especulação imobiliária, sobretudo em áreas com potenciais
naturais.
Dentro dessa perspetiva, o investimento em regiões que possuem abundância
de áreas verdes está interligado com uma melhor qualidade ambiental, que
consequentemente está ligado a uma melhor qualidade de vida. O conjunto arbóreo em cidades tropicais, por
exemplo, é fundamental para garantir um conforto humano onde temperaturas muito
altas prevalecem. Dessa maneira, o interesse
econômico nessas áreas são justificados pelo bem estar social e também visto os
inúmeros benefícios que a arborização possui, dentre eles: "a
criação de microclima mais ameno; despoluição do ar de partículas sólidas e
gasosas; redução da poluição sonora; purificação do ar pela redução de
micro-organismos; redução da intensidade do vento canalizado em avenidas
cercadas por prédios; vegetação como moldura e composição da paisagem junto a monumentos
e edificações históricas." [3]
Por outro lado, refletindo no que de fato significa
"natureza" para a sociedade contemporânea, de uma forma geral, existe
uma porção de símbolos e significados, além de ideologias que são incorporados
pelas pessoas, e vemos que os novos valores e desejos dessa “nova natureza”
está associado a um sentimento de valor estético. Um parque, por exemplo,
dentro da lógica capitalista, é "vendido" como uma concepção
simbólica de natureza e suas características, as quais contam com canteiros
recordados, árvores nativas, animais soltos, pássaros voando, pessoas se
divertindo e aproveitando o ambiente natural. Esse espaço é criado de acordo
com uma ordenação e reflexo humano; não há predadores ou competição natural como
seria na concepção "selvagem". Logo, a natureza também se classifica
como mercadoria elitizada, a partir do momento em que o mercado estimula o
consumo de áreas que possuem valores simbólicos e benéficos ao social. A
intervenção humana no espaço pode ressignificar o meio como algo social.
Nesta perspectiva de cidade e valorização de espaços urbanos, o acesso a
natureza também entra em uma lógica desigual de acesso, afinal, classes sociais
menos favorecidas estão periféricas a essas transformações, pois de acordo com
a supervalorização da natureza atrelada à especulação imobiliária, essas
paisagens se tornam sinônimo de status
para morar e usufruir. É possível observar uma cidade segregada, na qual a
ideia que se tem de natureza é para poucos, além de ser modificada dentro deste
modelo de apropriação.
Walmir Jun
Referências Bibliográficas
[1] Página 2. [2] Página 22
[3] Página 4
[4] Página 5
Fonte imagens:
http://robsonsavio.blogspot.com.br/2015/08/as-diferentes-cidades-dentro-de-uma.html
http://csunidadeclassista.blogspot.com.br/2014/01/por-uma-cidade-sob-controle-dos.html
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