11 de setembro de 2016

Respiramos o mesmo ar? Apropriação da Natureza e suas Implicações

 Por ter sido uma colônia, o Brasil teve seu desenvolvimento pautado na elevada exploração de seus recursos naturais para geração de riquezas, o que afetou diretamente na estruturação de seus ciclos econômicos. Consequentemente, o processo de industrialização e urbanização foram regidos pelos detentores de capital, o que também afetou o desenvolvimento das cidades, destacando-se ainda que esse espaço sofreu grandes mutações sociais, econômicas e políticas.

 A cidade contemporânea, portanto, é regida pela dinâmica capitalista e seus principais agentes promotores: "proprietários dos meios de produção (sobretudo os grandes industriais), proprietários fundiários, promotores imobiliários, o Estado e os grupos sociais excluídos". [1] Direta e indiretamente, os agentes com maior poder aquisitivo contribuem para a formação de um espaço desigual, pois há uma concentração de renda consubstanciada pelo Estado e mercado imobiliário em determinados bairros privilegiados, chamados espaços luminosos: "zonas consideradas interessantes do ponto de vista do capital que são alvo de grandes obras, como: implantação de áreas verdes, espaços de recreação, shoppings, parques urbanos dentre outros que venham agregar valor ao solo urbano" [2]. Dessa forma, o preço de terrenos se expande e estimula a especulação imobiliária, sobretudo em áreas com potenciais naturais.

 Dentro dessa perspetiva, o investimento em regiões que possuem abundância de áreas verdes está interligado com uma melhor qualidade ambiental, que consequentemente está ligado a uma melhor qualidade de vida.  O conjunto arbóreo em cidades tropicais, por exemplo, é fundamental para garantir um conforto humano onde temperaturas muito altas prevalecem. Dessa maneira, o interesse econômico nessas áreas são justificados pelo bem estar social e também visto os inúmeros benefícios que a arborização possui, dentre eles: "a criação de microclima mais ameno; despoluição do ar de partículas sólidas e gasosas; redução da poluição sonora; purificação do ar pela redução de micro-organismos; redução da intensidade do vento canalizado em avenidas cercadas por prédios; vegetação como moldura e composição da paisagem junto a monumentos e edificações históricas." [3]

 Por outro lado, refletindo no que de fato significa "natureza" para a sociedade contemporânea, de uma forma geral, existe uma porção de símbolos e significados, além de ideologias que são incorporados pelas pessoas, e vemos que os novos valores e desejos dessa “nova natureza” está associado a um sentimento de valor estético. Um parque, por exemplo, dentro da lógica capitalista, é "vendido" como uma concepção simbólica de natureza e suas características, as quais contam com canteiros recordados, árvores nativas, animais soltos, pássaros voando, pessoas se divertindo e aproveitando o ambiente natural. Esse espaço é criado de acordo com uma ordenação e reflexo humano; não há predadores ou competição natural como seria na concepção "selvagem". Logo, a natureza também se classifica como mercadoria elitizada, a partir do momento em que o mercado estimula o consumo de áreas que possuem valores simbólicos e benéficos ao social. A intervenção humana no espaço pode ressignificar o meio como algo social.

Nesta perspectiva de cidade e valorização de espaços urbanos, o acesso a natureza também entra em uma lógica desigual de acesso, afinal, classes sociais menos favorecidas estão periféricas a essas transformações, pois de acordo com a supervalorização da natureza atrelada à especulação imobiliária, essas paisagens se tornam sinônimo de status para morar e usufruir. É possível observar uma cidade segregada, na qual a ideia que se tem de natureza é para poucos, além de ser modificada dentro deste modelo de apropriação.

 Walmir Jun

Referências Bibliográficas

[1] Página 2. [2] Página 22 [3] Página 4


[4] Página 5



 Fonte imagens:
http://robsonsavio.blogspot.com.br/2015/08/as-diferentes-cidades-dentro-de-uma.html

http://csunidadeclassista.blogspot.com.br/2014/01/por-uma-cidade-sob-controle-dos.html

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