Para quem assiste ou lê o jornal,
comumente vê notícias sobre as guerras que acontecem no Oriente Médio, a
situação dos refugiados em direção à Europa e como os países estão lidando com
os numerosos barcos que chegam em suas fronteiras. Mas por um momento, você
deve estar pensando ‘o que isso tem a ver com um blog sobre educação
ambiental’, certo?! Pois bem, questões socioambientais, como próprio nome
sugere, vão muito além de refletirmos somente sobre ecologia, conservação ou
preservação, tal como preconizam a Ecologia Profunda, a Ecologia Integral e a
Educação Ambiental Transpessoal. As questões socioambientais também incluem
reflexões a respeito das imbricações da teia da vida e como estamos
interconectados. Nesse sentido, as reflexões deste texto são resultados de uma
viagem que fiz em julho deste ano para rever a minha irmã e conhecer alguns
lugares da Europa e como o tempo que passei lá a me fez ao mesmo tempo
contemplar a beleza dos lugares e a indagar o que anda acontecendo com o mundo. Vivenciei
diversas situações que me fizeram ver a intolerância étnicorracial e religiosa
que apenas sabia por ler ou ver uma reportagem no jornal e parei diversas vezes
refletindo ao me colocar no lugar das pessoas que encontrei neste caminho. Nos
três destinos mais marcantes, Bruxelas, Colônia e Amsterdam, eis minhas
memórias:
Na
capital belga, cidade que fora vítima de atentados terroristas em Março de 2016,
estava com as ruas repletas de militares com armas a postos. Munida de um mapa
turístico, visitei várias igrejas da localidade, inclusive, uma que diante das demais
monumentais catedrais, passava despercebida, mas ao adentrá-la, deparei-me com
uma exposição composta por inúmeros painéis com o conteúdo sobre a escravidão
(um inclusive,
falando sobre o Brasil e a situação dos boias-frias) e ao lado, um caixão com a
escritura “o afogado imigrante desconhecido” com placas acima exibindo os
números dos refugiados que arriscam a vida ao atravessar o mar em busca de
asilo na Europa. Um dos símbolos
tradicionais da cidade é o Manneken Pis,
uma estátua de um menino urinando e pela escrita da placa, explicava-se que
significou o início do saneamento básico de Bruxelas, o que me fez pensar na
origem das cidades e a organização urbana. Ao almoçar em um restaurante, o dono atencioso,
conversou relatando as consequências do atentado, em como fizeram o negócio
decrescer e o medo que estava sentindo sobre acontecer novamente, expressando
sua opinião sobre a quantidade de muçulmanos que se encontram no país. Apesar de eu estar ciente com as
reportagens a partir de notícias no jornal, diante dessas duas situações,
percebi com mais clareza as inúmeras perspectivas que o acolhimento dos
refugiados proporciona e como a desconstrução do preconceito e empatia é vital
para solucionar esta questão.
Continuei minha viagem e passando
um final de semana conhecendo a quarta maior cidade alemã, percorri a catedral de
Colônia, monumental e relatando em sua estrutura a sua história de
sobrevivência diante aos bombardeios durante a Segunda Guerra Mundial. Aqui, novamente,
deparei-me surpresa, com uma exposição sobre os refugiados: um barco de madeira
e palavras, exibidas por um projetor no chão, em diversos idiomas com a frase
“Jesus está sentado na barca dos refugiados”. Também visitei a fábrica de
chocolate da Lindt, com painéis sobre a exploração do chocolate nos países
africanos, o início da indústria e consolidação do produto na sociedade. Peguei
um trem para pernoitar em Leverkusen, cidade vizinha. Caminhando pelos vagões
para encontrar um lugar desocupado, passei por um homem que me convidou a
sentar ao seu lado, sorri em agradecimento e sentei-me, começamos a conversar e
ele me contou sobre sua origem angolana, de como sentia falta do seu país e que
trabalha há 16 anos como taxista na Alemanha para enviar dinheiro para sua
família em Ruanda. Disse-me que se impressionou quando eu aceitei sentar ao
lado dele, o questionei sobre o porquê
da surpresa e ele revelou que em geral, se fosse um cidadão alemão, ele se
negaria a dividir o assento, “They wouldn’t sit with me because the colour of
my skin”. Esta foi a parte da viagem
que mais me emocionou, me lembrei das aulas de história sobre o imperialismo e
as consequências entre os povos africanos e de como o racismo descrimina
culturas e estereotipa identidades. Nesse momento também lembrei-me de como a
produção de chocolate ao redor do mundo, bem como a obtenção de cacau em países,
como por exemplo, Costa do Marfim e o
antagonismo entre a consolidação da indústria que lucra exponencialmente diante
a pobreza dos trabalhadores advém muitas vezes do trabalho escravo ou semi
escravo.
Dando continuidade à minha viagem,
em meu destino final, Amsterdã, visitei o Rijksmuseum,
o Museu do Diamante e
me senti incomodada pela abordagem rasa das explicações e ciência por trás dessa indústria, tanto pelo preço exorbitante a ser calculado pela clareza, cor, tamanho, lapidação, quanto ao pensar em sua proveniência, então, no final, questionei o apresentador sobre a origem do material e os trabalhadores que o extraem. Ele me informou que não eram diamantes de sangue, que existe um certificado internacional que assegura a integridade do trabalhador, entretanto revelou que eles ganham muito pouco pelo trabalho.
Por fim, uma das perguntas que mais me emocionou dentre os depoimentos durante a exposição na casa da Anne Frank, foi o depoimento de um senhor que dizia que a Segunda Guerra Mundial nos ensinou o que o ser humano é capaz e sobre como não deveríamos deixar as atrocidades acontecerem novamente, e então, diante de toda a barbaridade que estão ocorrendo neste mesmo minuto, eu me pergunto, já não voltou a se repetir? ou se fomos alertados, como fomos capazes de deixar se repetir?
me senti incomodada pela abordagem rasa das explicações e ciência por trás dessa indústria, tanto pelo preço exorbitante a ser calculado pela clareza, cor, tamanho, lapidação, quanto ao pensar em sua proveniência, então, no final, questionei o apresentador sobre a origem do material e os trabalhadores que o extraem. Ele me informou que não eram diamantes de sangue, que existe um certificado internacional que assegura a integridade do trabalhador, entretanto revelou que eles ganham muito pouco pelo trabalho.
Mas o mais marcante, sem dúvida, foi
a visita à Casa da Anne Frank, beirando ao indescritível o sentimento de
conhecer o espaço, reler partes do diário, escutar os depoimentos e ao final do
trajeto da casa, há um vídeo com pessoas de diversas origens comentando sobre o
diário, a Segunda Guerra Mundial e o que aprendemos de tudo o que aconteceu.
Essa poderia ter sido apenas mais
uma viagem de uma estudante pela Europa, entretanto, esta promoveu em mim as inúmeras reflexões que foram aqui descritas e pude chegar à
conclusão que precisamos urgentemente refletir sobre o rumo que as nossas atitudes
predatórias estão nos levando. Precisamos também refletir a respeito da origem
dos produtos que consumimos, nos conscientizarmos a respeito da intolerância que mata,
aos pouco no dia a dia, bem como leva a eventos extremos de dor e morte. O preconceito mina e o extremismo obscurecem as
relações humanas. Precisamos despertar para a alteridade, o altruísmo e a empatia,
agindo de forma mais consciente e responsável ao ponderar sobre nossas escolhas
e promover a mudança que o mundo tanto precisa, aliado a sensibilidade,
justiça, igualdade e respeito ao próximo.
“Para que a comunidade humana
sobreviva, é imprescindível que sejamos mais responsáveis por nossas ações e
eliminemos os preconceitos religiosos, raciais, étnicos, de gênero,
egoisticamente motivados pelo poder político e pela ganância econômica.”
TOMITA, Luiza. A raiz de todo mal: uma exposição de
preconceito, fundamentalismo e desequilíbrio de gênero. (2008).
Por fim, uma das perguntas que mais me emocionou dentre os depoimentos durante a exposição na casa da Anne Frank, foi o depoimento de um senhor que dizia que a Segunda Guerra Mundial nos ensinou o que o ser humano é capaz e sobre como não deveríamos deixar as atrocidades acontecerem novamente, e então, diante de toda a barbaridade que estão ocorrendo neste mesmo minuto, eu me pergunto, já não voltou a se repetir? ou se fomos alertados, como fomos capazes de deixar se repetir?
Amanda Malheiros
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