9 de outubro de 2016

A raiz de todo mal: o que anda acontecendo com o mundo e como nós colaboramos para isso...

Para quem assiste ou lê o jornal, comumente vê notícias sobre as guerras que acontecem no Oriente Médio, a situação dos refugiados em direção à Europa e como os países estão lidando com os numerosos barcos que chegam em suas fronteiras. Mas por um momento, você deve estar pensando ‘o que isso tem a ver com um blog sobre educação ambiental’, certo?! Pois bem, questões socioambientais, como próprio nome sugere, vão muito além de refletirmos somente sobre ecologia, conservação ou preservação, tal como preconizam a Ecologia Profunda, a Ecologia Integral e a Educação Ambiental Transpessoal. As questões socioambientais também incluem reflexões a respeito das imbricações da teia da vida e como estamos interconectados. Nesse sentido, as reflexões deste texto são resultados de uma viagem que fiz em julho deste ano para rever a minha irmã e conhecer alguns lugares da Europa e como o tempo que passei lá a me fez ao mesmo tempo contemplar a beleza dos lugares e a indagar o que anda acontecendo com o mundo. Vivenciei diversas situações que me fizeram ver a intolerância étnicorracial e religiosa que apenas sabia por ler ou ver uma reportagem no jornal e parei diversas vezes refletindo ao me colocar no lugar das pessoas que encontrei neste caminho. Nos três destinos mais marcantes, Bruxelas, Colônia e Amsterdam, eis minhas memórias:

 

Na capital belga, cidade que fora vítima de atentados terroristas em Março de 2016, estava com as ruas repletas de militares com armas a postos. Munida de um mapa turístico, visitei várias igrejas da localidade, inclusive, uma que diante das demais monumentais catedrais, passava despercebida, mas ao adentrá-la, deparei-me com uma exposição composta por inúmeros painéis com o conteúdo sobre a escravidão (um inclusive, falando sobre o Brasil e a situação dos boias-frias) e ao lado, um caixão com a escritura “o afogado imigrante desconhecido” com placas acima exibindo os números dos refugiados que arriscam a vida ao atravessar o mar em busca de asilo na Europa.  Um dos símbolos tradicionais da cidade é o Manneken Pis, uma estátua de um menino urinando e pela escrita da placa, explicava-se que significou o início do saneamento básico de Bruxelas, o que me fez pensar na origem das cidades e a organização urbana. Ao almoçar em um restaurante, o dono atencioso, conversou relatando as consequências do atentado, em como fizeram o negócio decrescer e o medo que estava sentindo sobre acontecer novamente, expressando sua opinião sobre a quantidade de muçulmanos que se encontram no país. Apesar de eu estar ciente com as reportagens a partir de notícias no jornal, diante dessas duas situações, percebi com mais clareza as inúmeras perspectivas que o acolhimento dos refugiados proporciona e como a desconstrução do preconceito e empatia é vital para solucionar esta questão.
 
Continuei minha viagem e passando um final de semana conhecendo a quarta maior cidade alemã, percorri a catedral de Colônia, monumental e relatando em sua estrutura a sua história de sobrevivência diante aos bombardeios durante a Segunda Guerra Mundial. Aqui, novamente, deparei-me surpresa, com uma exposição sobre os refugiados: um barco de madeira e palavras, exibidas por um projetor no chão, em diversos idiomas com a frase “Jesus está sentado na barca dos refugiados”. Também visitei a fábrica de chocolate da Lindt, com painéis sobre a exploração do chocolate nos países africanos, o início da indústria e consolidação do produto na sociedade. Peguei um trem para pernoitar em Leverkusen, cidade vizinha. Caminhando pelos vagões para encontrar um lugar desocupado, passei por um homem que me convidou a sentar ao seu lado, sorri em agradecimento e sentei-me, começamos a conversar e ele me contou sobre sua origem angolana, de como sentia falta do seu país e que trabalha há 16 anos como taxista na Alemanha para enviar dinheiro para sua família em Ruanda. Disse-me que se impressionou quando eu aceitei sentar ao lado dele, o questionei  sobre o porquê da surpresa e ele revelou que em geral, se fosse um cidadão alemão, ele se negaria a dividir o assento, “They wouldn’t sit with me because the colour of my skin”. Esta foi a parte da viagem que mais me emocionou, me lembrei das aulas de história sobre o imperialismo e as consequências entre os povos africanos e de como o racismo descrimina culturas e estereotipa identidades. Nesse momento também lembrei-me de como a produção de chocolate ao redor do mundo, bem como a obtenção de cacau em países, como por exemplo,  Costa do Marfim e o antagonismo entre a consolidação da indústria que lucra exponencialmente diante a pobreza dos trabalhadores advém muitas vezes do trabalho escravo ou semi escravo.
 
Dando continuidade à minha viagem, em meu destino final, Amsterdã, visitei o Rijksmuseum, o Museu do Diamante e
me senti incomodada pela abordagem rasa das explicações e ciência por trás dessa indústria, tanto pelo preço exorbitante a ser calculado pela clareza, cor, tamanho, lapidação, quanto ao pensar em sua proveniência, então, no final, questionei o apresentador sobre a origem do material e os trabalhadores que o extraem. Ele me informou que não eram diamantes de sangue, que existe um certificado internacional que assegura a integridade do trabalhador, entretanto revelou que eles ganham muito pouco pelo trabalho.
Mas o mais marcante, sem dúvida, foi a visita à Casa da Anne Frank, beirando ao indescritível o sentimento de conhecer o espaço, reler partes do diário, escutar os depoimentos e ao final do trajeto da casa, há um vídeo com pessoas de diversas origens comentando sobre o diário, a Segunda Guerra Mundial e o que aprendemos de tudo o que aconteceu.
Essa poderia ter sido apenas mais uma viagem de uma estudante pela Europa, entretanto, esta promoveu  em mim as inúmeras reflexões  que foram aqui descritas e pude chegar à conclusão que precisamos urgentemente refletir sobre o rumo que as nossas atitudes predatórias estão nos levando. Precisamos também refletir a respeito da origem dos produtos que consumimos, nos conscientizarmos a respeito da intolerância que mata, aos pouco no dia a dia, bem como leva a eventos extremos de dor e morte.  O preconceito mina e o extremismo obscurecem as relações humanas. Precisamos despertar para a alteridade, o altruísmo e a empatia, agindo de forma mais consciente e responsável ao ponderar sobre nossas escolhas e promover a mudança que o mundo tanto precisa, aliado a sensibilidade, justiça, igualdade e respeito ao próximo.
“Para que a comunidade humana sobreviva, é imprescindível que sejamos mais responsáveis por nossas ações e eliminemos os preconceitos religiosos, raciais, étnicos, de gênero, egoisticamente motivados pelo poder político e pela ganância econômica.”
TOMITA, Luiza. A raiz de todo mal: uma exposição de preconceito, fundamentalismo e desequilíbrio de gênero. (2008).

Por fim, uma das perguntas que mais me emocionou dentre os depoimentos durante a exposição na casa da Anne Frank, foi o depoimento de um senhor que dizia que a Segunda Guerra Mundial nos ensinou o que o ser humano é capaz e sobre como não deveríamos deixar as atrocidades acontecerem novamente, e então, diante de toda a barbaridade que estão ocorrendo neste mesmo minuto, eu me pergunto, já não voltou a se repetir? ou se fomos alertados, como fomos capazes de deixar se repetir?
Amanda Malheiros
 
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