Talvez para a maior parte das pessoas pensar sobre a questão
ambiental possa remeter exclusivamente ao cuidado com o ambiente natural, ou
seja, conservação ou preservação dos recursos naturais ou da fauna, sem que
estas tenham relação com outros assuntos que permeiam nosso mundo, como por
exemplo, as questões sociocultural, política, econômica e educacional. Talvez,
esta seja uma consequência do modo como fomos condicionados a enxergar as
problemáticas, geralmente de modo fragmentado. Uma tendência cartesiana.
O pensamento cartesiano, ou seja, advindo de Descarte, é
conhecido pela famosa frase: “penso, logo existo”. Esta, expressa uma dicotomia
entre sujeito e mundo, conferindo portanto, uma distinção entre indivíduo e o
todo integrado.
Esta concepção esclarece uma ruptura entre sujeito individual e o ordenamento mais
amplo do qual ele era antes uma parte, favorecendo a emergência do
individualismo (JOVCHELOVITCH, 2008).
Assim, a lógica cartesiana é marcada pela racionalidade exacerbada,
pela fragmentação e hiperespecialização. Disto, MORIN (2001) observa que:
"O enfraquecimento da percepção do
global conduz ao enfraquecimento da responsabilidade (cada qual tende a ser
responsável apenas por sua tarefa especializada), assim como ao enfraquecimento
da solidariedade (cada qual não mais sente os vínculos com seus concidadãos)".
Imersos nesta visão compartimentada do mundo, que é reforçada
na escola, por exemplo, quando temos diferentes disciplinas (biologia,
história, geografia, matemática,...), em que os conhecimentos são passados de
forma que parecem estar dissociados um do outro, nos condicionam a um olhar local,
micro, separado do macro, impossibilitando o entendimento das coisas em sua
complexidade e interação com o meio.
Sobre isso, podemos refletir que a questão ambiental vai
muito além de somente a gestão ambiental, principalmente porque uma vez que a
atuação em qualquer uma das diferentes dimensões da questão pode afetar diretamente
o meio ambiente, sendo este definido por Reigota, 2004 como:
"O lugar determinado ou percebido,
onde os elementos naturais e sociais estão em relações dinâmicas e em
interação. Essas relações implicam processos de criação cultural e tecnológica e
processos históricos e sociais de transformação do meio natural e construído".
Dentro desta concepção, Reigota acrescenta que ao transformar
o espaço, os meios natural e cultural, o ser humano é também transformado por
ele, tanto interno quanto externo e isso se manifesta, por exemplo, no modo
como exploramos ou acessamos os recursos
naturais, culturais e sociais de um povo (REIGOTA, 2004).
Deste modo, podemos refletir sobre a proposta da Ecologia
Profunda que tem como princípio a alteridade que é colocada como a interdependência
em que seres vivos ou não, estão submetidos.
No entanto, como transformar o modo como lidamos ou nos
relacionamos com a questão ambiental? De acordo com Farias (2016) o
autoconhecimento é uma alternativa, uma vez que desperta para a percepção
humana na qual a alteridade é
estimulada.
Somos indivíduos que juntos formam sociedades. Então, como
esperarmos grandes transformações sociais se como indivíduos andamos no piloto
automático? Indivíduos e sociedades se transformam juntos, portanto, precisamos
fazer a nossa parte nesse processo de transformação.
Autoconhecimento não é mais “papo chato” de gente esquisita,
é, na verdade, pressuposto fundamental na constituição de uma sociedade mais
solidária, menos individualista e predatória.
Daniele Bispo.
Bibliografia
JOVCHELOVITCH, S. Os
contextos do Saber: Representações, Comunidade e Cultura. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2008.
MORIN, E.
Os sete Saberes Necessários à Educação do Futuro 3a. ed. - São Paulo - Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2001.
REIGOTA, M. Meio Ambiente e Representação Social 6ª.
Ed. – São Paulo, Cortez, 2004.
FARIAS, L. Educação Ambiental Transpessoal. Curitiba:
CRV, 2016.
Fonte imagem
http://www.porquegenteeassim.com.br/post/autoconhecimento-e-so-para-os-fortes/106/39
Nenhum comentário:
Postar um comentário