Ocupando o lugar dos “novos baianos”
em São Paulo, a população de imigrantes bolivianos que está na capital paulista
encontra um cenário duplamente perverso: o do preconceito discriminatório e o
da invisibilidade de sua realidade social aos olhos da grande população da
cidade, revivendo o cenário de exclusão pelo qual os nordestinos sofreram no
passado.
(Foto: Gerardo Lazzari) |
Confinados em bairros da região central
da capital ou vivendo em grupos concentrados em algumas outras cidades, os
bolivianos começaram a imigrar para o Brasil no final da década de 1980,
sobretudo a partir dos anos 90, devido ao início da estabilidade econômica e a
geração de empregos no Brasil. Por causa
disso, muitos bolivianos enxergaram a oportunidade que seu país, até então não
lhes tinha proporcionado.
Os bolivianos recém-chegados veem o
sonho de ajudar a família ficar muito distante, voltar então para sua terra
torna-se quase impossível. Não obstante essa circunstância dramática na vida
desses imigrantes outras duas situações os expõe a essa dominação: a
dificuldade e o custo de legalizar-se no Brasil e o acesso aos serviços
públicos, sobretudo à educação.
O processo de legalização de
estrangeiros no Brasil, sobretudo a política de imigração brasileira tem se
mostrado falha no que diz respeito a garantir aos bolivianos os direitos
fundamentais assegurados na Declaração Universal dos Direitos Humanos,
contradizendo o discurso e a postura brasileira de integração sul-americana por
meio do MERCOSUL, do qual a Bolívia é país-membro. Ressalto ainda, que muitos
bolivianos sofrem golpes de sujeitos mal intencionados que inventam ser advogados
recebem dinheiro para a legalização e somem.
Outra questão é o despreparo dos
serviços públicos para atendê-los de maneira digna, problema que se materializa
principalmente nos atendimentos de Saúde e Educação. Na Bolívia o sistema de
saúde é privado, diferente do Brasil que tem atendimento gratuito de saúde. Por
falta dessa informação, bolivianos deixam de procurar atendimento em postos e
também pelo medo de não serem compreendidos em seu idioma, cultura, etnia e
etc... O quadro inclui mulheres bolivianas, que deixam de acompanhar o período
pré-natal pela mesma razão, além da discriminação e da falta de preparo dos
profissionais da saúde para atendê-los. O preconceito se baseia no estereotipo
de que os bolivianos são “índios”, “sujos”, “fedidos” e “traficantes”, seu
idioma é o fator número um de exclusão.
Na educação, precisamente dentro da
escola, o problema é ainda mais grave, pois não há preparo para ofertar uma
educação que trabalhe com a diversidade linguística, étnica e cultural, expondo
a população boliviana aos maus tratos, à agressão e à desumanização diante da
sociedade brasileira.
Em Maio de 2012 a Revista do Brasil
publicou uma reportagem a esse respeito e trouxe relatos de
várias situações degradantes que os bolivianos têm sido expostos em sala de
aula. Imigrantes bolivianos matriculados no ensino regular brasileiro ou seus
descendentes diretos têm sofrido agressões verbais e físicas, espancamentos e
humilhações, ao ponto de abandonar a escola.
(Foto: Gerardo Lazzari) |
Pensar a Educação
pública brasileira num contexto plural de fato é uma necessidade do nosso país,
é dever das Universidades, das instituições de ensino e dos profissionais da
educação procurar a superação dessa realidade, visando à educação inclusiva do
ponto de vista linguístico, cultural, étnico. Enfim, de fazer a integração dos
países da América do Sul ser humana e válida para a consagração de uma
cidadania mundial que garanta os direitos fundamentais do homem em qualquer
canto do nosso país. Além disso, aqueles que cursam Licenciaturas nas diversas
áreas do conhecimento precisam olhar para essa questão como um desafio
interessante a ser vencido: como ensinar Química, Matemática, Biologia,
História, Geografia e até Língua Portuguesa para um povo que está distante de
sua terra, de seus heróis nacionais, do conhecimento da vida, do mundo, do
idioma e da ciência de seu país?
Rafaella Ayllón
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