8 de maio de 2013

Bolivianos em São Paulo: Um Grito Desesperado Por Humanidade.



Ocupando o lugar dos “novos baianos” em São Paulo, a população de imigrantes bolivianos que está na capital paulista encontra um cenário duplamente perverso: o do preconceito discriminatório e o da invisibilidade de sua realidade social aos olhos da grande população da cidade, revivendo o cenário de exclusão pelo qual os nordestinos sofreram no passado.  

(Foto: Gerardo Lazzari)
Confinados em bairros da região central da capital ou vivendo em grupos concentrados em algumas outras cidades, os bolivianos começaram a imigrar para o Brasil no final da década de 1980, sobretudo a partir dos anos 90, devido ao início da estabilidade econômica e a geração de empregos no Brasil.  Por causa disso, muitos bolivianos enxergaram a oportunidade que seu país, até então não lhes tinha proporcionado.   

            Dentre os anseios destes bolivianos está o de conseguir um emprego, ajudar a família que ficou na Bolívia e, por fim, retornar ao seu país em condições de se estabelecer melhor do que antes. No entanto, o sonho começa a parecer pesadelo quando muitos desembarcam no Brasil e descobrem que caíram numa grande armadilha, muitas vezes armada por conterrâneos ou brasileiros que se estabeleceram aqui e se aproveitam da situação de seus compatriotas. É comum saber que bolivianos são escravizados em oficinas de costura na Região do Brás, Pari e Mooca. É da cultura deles saber costurar, independente do sexo.
 
Os bolivianos recém-chegados veem o sonho de ajudar a família ficar muito distante, voltar então para sua terra torna-se quase impossível. Não obstante essa circunstância dramática na vida desses imigrantes outras duas situações os expõe a essa dominação: a dificuldade e o custo de legalizar-se no Brasil e o acesso aos serviços públicos, sobretudo à educação.

O processo de legalização de estrangeiros no Brasil, sobretudo a política de imigração brasileira tem se mostrado falha no que diz respeito a garantir aos bolivianos os direitos fundamentais assegurados na Declaração Universal dos Direitos Humanos, contradizendo o discurso e a postura brasileira de integração sul-americana por meio do MERCOSUL, do qual a Bolívia é país-membro. Ressalto ainda, que muitos bolivianos sofrem golpes de sujeitos mal intencionados que inventam ser advogados recebem dinheiro para a legalização e somem.

Outra questão é o despreparo dos serviços públicos para atendê-los de maneira digna, problema que se materializa principalmente nos atendimentos de Saúde e Educação. Na Bolívia o sistema de saúde é privado, diferente do Brasil que tem atendimento gratuito de saúde. Por falta dessa informação, bolivianos deixam de procurar atendimento em postos e também pelo medo de não serem compreendidos em seu idioma, cultura, etnia e etc... O quadro inclui mulheres bolivianas, que deixam de acompanhar o período pré-natal pela mesma razão, além da discriminação e da falta de preparo dos profissionais da saúde para atendê-los. O preconceito se baseia no estereotipo de que os bolivianos são “índios”, “sujos”, “fedidos” e “traficantes”, seu idioma é o fator número um de exclusão.

Na educação, precisamente dentro da escola, o problema é ainda mais grave, pois não há preparo para ofertar uma educação que trabalhe com a diversidade linguística, étnica e cultural, expondo a população boliviana aos maus tratos, à agressão e à desumanização diante da sociedade brasileira. 

Em Maio de 2012 a Revista do Brasil publicou uma reportagem a esse respeito e trouxe relatos de várias situações degradantes que os bolivianos têm sido expostos em sala de aula. Imigrantes bolivianos matriculados no ensino regular brasileiro ou seus descendentes diretos têm sofrido agressões verbais e físicas, espancamentos e humilhações, ao ponto de abandonar a escola. 

(Foto: Gerardo Lazzari)
Pensar a Educação pública brasileira num contexto plural de fato é uma necessidade do nosso país, é dever das Universidades, das instituições de ensino e dos profissionais da educação procurar a superação dessa realidade, visando à educação inclusiva do ponto de vista linguístico, cultural, étnico. Enfim, de fazer a integração dos países da América do Sul ser humana e válida para a consagração de uma cidadania mundial que garanta os direitos fundamentais do homem em qualquer canto do nosso país. Além disso, aqueles que cursam Licenciaturas nas diversas áreas do conhecimento precisam olhar para essa questão como um desafio interessante a ser vencido: como ensinar Química, Matemática, Biologia, História, Geografia e até Língua Portuguesa para um povo que está distante de sua terra, de seus heróis nacionais, do conhecimento da vida, do mundo, do idioma e da ciência de seu país?
           O primeiro passo, sem dúvida, é conhecer a diferença, despir-se do preconceito e, então com base no aprendido, discutir a melhor e a mais rápida maneira de desconstruir o preconceito, a exclusão e a indiferença que torna quase invisíveis os bolivianos e todos os demais grupos étnicos presentes no Brasil. Portanto, fica o convite para conhecer mais de perto e tomar contato com a cultura boliviana, o principal ponto de encontro dos bolivianos residentes em São Paulo é a Feira Kantuta, que acontece aos Domingos na Praça Kantuta – Canindé/SP.  


Rafaella Ayllón

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