27 de junho de 2013

Comprar, jogar fora, comprar de novo...

            Você sabia que há mais de 100 anos já existe a tecnologia para produzir lâmpadas com duração vitalícia? Exemplo disso é uma lâmpada do Corpo de Bombeiros de Livermore, Califórnia, cujo filamento foi desenvolvido por Adolphe Chaillet e está acesa desde 1901, tornando-se assim atração turística na cidade. No entanto somente chegam ao mercado aquelas com até 1000 horas de vida útil. Esse é o exemplo mais clássico da obsolescência programada. Esta estratégia vem sendo empregada pelos fabricantes desde o início da produção em massa, reduzindo a vida útil ou mesmo estipulando um prazo de validade para os produtos de modo garantir um mercado consumidor.

Em 1932, Bernard London, um corretor imobiliário de Manhattan, publicou o folheto “Acabar com a Depressão através da obsolescência planejada”, que propunha tornar obrigatório o estabelecimento de um prazo de validade para produtos, que deveriam ser encaminhados a locais onde seriam destruídos após a expiração do mesmo. Não foi imposta nenhuma lei a relacionada ao tema, mas de fato a estratégia ganhou força após a crise de 1929, visando a recuperação econômica e vem se expandindo até os dias de hoje. Outro exemplo que ficou famoso foi o dos químicos da grande empresa DuPont. Eles investiram muito estudo para desenvolver meias mais duradouras. No entanto, após conseguirem o resultado esperado, foram obrigados a suspender a produção e as meias tiveram de ser retiradas do mercado e substituídas por modelos mais frágeis para não cessarem as vendas.

Atualmente, além dos produtos descartáveis e de vida curta que fazem parte do nosso dia-a-dia, observa-se fortemente a obsolescência perceptiva e a obsolescência tecnológica. A primeira está relacionada à moda e à cultura de que produtos mais antigos são insatisfatórios, a busca pelo novo apenas para “não ficar por fora” e está intimamente ligada ao crescimento da publicidade. A segunda também possui esse cunho de demanda por novidades, mas como o próprio nome já diz, de caráter tecnológico e esta pode ser de certa forma forçada pelos fabricantes. Por exemplo, é muito comum que, ao buscar a assistência técnica para consertar um pequeno defeito em um aparelho de celular, o cliente seja aconselhado a adquirir um novo aparelho, por conta de o conserto demandar peças que não são mais fabricadas ou mesmo por sair mais barato. O fenômeno se expande para a grande maioria dos eletroeletrônicos, como algumas impressoras, que contam com dispositivos que bloqueiam seu funcionamento após determinado número de impressões, obrigando o consumidor desinformado de adquirir uma nova máquina. Nesse setor também há marcante presença da obsolescência perceptiva com a busca de modelos cada vez mais modernos e com inovações tecnológicas, muitas vezes desnecessárias e que pouco diferem do modelo anterior.



Além de representarem um exemplo de como a sociedade atual pode perder grande parte dos reais valores como o prazer de apreciar a natureza, desfrutar da companhia de amigos e familiares e amar os demais e a si mesmo pelo que são e não pelo que tem, os fatos apresentados acima apresentam grande perigos materiais. Afinal, um crescimento econômico incessante que para acontecer requer um consumismo sem fim parece um tanto incompatível com um planeta de recursos limitados. Isso sem falar na geração de lixo para o qual, com exceção da reciclagem e reaproveitamento, não existe tratamento adequado. Mas ainda há tempo de mudar esse cenário, basta reduzir de uma vez por todas os hábitos de consumo, comprando apenas o imprescindível (alimentos, higiene), priorizando o que não vier em embalagens e caso haja embalagem, que ela seja reciclada ou reaproveitada. E cuide bem de suas coisas para que elas possam durar mais.

Nicole Pinotte Rodrigues

Baseado no documentário “Comprar, jogar fora, comprar: A história secreta da obsolescência programada” (2009)

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