30 de março de 2015

Ciência e democracia?


     O físico Carl Sagan, no segundo capítulo de seu livro “O mundo assombrado pelos demônios” (1995), traça um paralelo entre a ciência e a democracia, afirmando que ambas apresentam valores que são, muitas vezes, indistinguíveis. E dois são os motivos apresentados por ele para corroborar essa afirmação, sendo o primeiro deles é que “a ciência confere poder a qualquer um que se der ao trabalho de aprendê-la (embora muitos tenham sido sistematicamente impedidos de adquirir esse conhecimento). E o segundo é que ela se nutre, na verdade, necessita, do livre intercâmbio de ideias; seus valores são opostos ao sigilo”.
     Concordo plenamente com o primeiro dos motivos apresentado acima, entretanto, o segundo não me convenceu.
     Posso estar muito enganada, até porque fui apresentada ao meio acadêmico há muito pouco tempo, mas tenho a impressão de que, uma vez que o status de um pesquisador é dado aqui no Brasil pelo seu número de publicações e citações (entre outros fatores), muitos cientistas não compartilham suas ideias por medo de perderem uma publicação para outros colegas. O resultado são trabalhos que dão a sensação de incompletude, mas que, se fossem feitos em colaboração com outros autores de áreas afins, poderiam produzir trabalhos de qualidade muito melhor e aplicações muito mais efetivas. 
    Neste sentido, pensando nos trabalhos relacionados à questão ambiental, me parece altamente proveitoso que, cada vez mais, sejam elaborados por um conjunto de profissionais especializados em diferentes áreas do conhecimento. E que, quanto à divulgação científica, acho que é muito acessível pra quem souber procurar com a grande disponibilidade de bibliografias online e realização de congressos que permitem o intercâmbio de ideias entre pesquisadores. As tecnologias para essa troca não faltam, mesmo que em muitos casos elas não funcionem na prática. Boa vontade? Será?
     Outra coisa que me incomoda no desenvolvimento da ciência no Brasil é o alto incentivo para a publicação de coisas novas e em contrapartida o baixo investimento para que muitas delas saiam do papel. Já existem tecnologias produzidas no país para energia produzida a partir do
movimento das ondas do mar e veículos movidos a hidrogênio, só para citar dois exemplos (existem muitas outras), mas não vemos nenhuma delas sendo implementada em nossas cidades, mesmo sabendo o quão vantajosas seriam do ponto de vista ambiental. Mas por quê? Questões políticas. Não há investimento por parte do governo, provavelmente porque é desvantajoso economicamente.
     Fica essa reflexão a você leitores. Quanto ao livro mencionado no primeiro parágrafo, fica a dica de sua leitura. Apesar do título inusitado, esse é um excelente livro que trata da distinção entre ciência e pseudociência, de como grande parte da população toma a segunda pela primeira e de como isso pode ser prejudicial para quem o faz. Ele se encontra disponível gratuitamente em: http://www.filosofia.art.br/download/filosofia/carl_sagan_o_mundo_assombrado_pelos_demonios.pdf.

Nicole Pinotte Rodrigues

Fontes: 
http://www.oabdeprimeira.com.br 
http://www.anovaeconomia.com.br

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