Recentemente, assisti ao filme “Festa
no céu” (título original “The book of Life”) dirigido por Jorge R. Gutierrez.
Achei o filme super divertido e impressiona com o colorido de cada cena, sendo
não apenas para as crianças, mas para a família inteira.
A história central se desenrola dentro
de uma primeira história, quando uma guia de um museu conta às crianças uma das
histórias do Livro da Vida, onde Manolo, Maria e Joaquim compõem um triângulo
amoroso. Sendo este triângulo alvo de uma disputa de La Muerte (Catrina) e
Xibalba, representando a terra dos lembrados e a dos esquecidos,
respectivamente.
Como a maioria dos filmes, particularmente
os hollywoodianos, a construção da história sob a perspectiva do espectador é
previsível, visto à presença de itens “clichês”, como por exemplo, com o
triângulo amoroso e de duas figuras marcantes, onde se observa a representação manequeísta
do bem e do mal. Porém, dois personagens me chamaram a atenção, Maria e Manolo.
Maria é forte e independente, sendo
uma das personagens mais incríveis pela desconstrução de submissão, a qual é
normalmente atribuída às personagens de gênero feminino. Desde nova demonstra
sua preocupação com os animais, protagonizando uma das cenas divertidas, onde
liberta todos os animais de suas jaulas, pois sente dó de um porco, que mais
tarde seria seu animal de estimação. Maria incita o ideal do direito intrínseco
à vida dos animais, sendo, também mais tarde, contra as touradas.
Manolo é o mais novo representante de
uma família inteira de toureiros, sendo pressionado a seguir a tradição da
família. Porém, o jovem alimenta paixão pela música. Em sua primeira
apresentação, se nega a matar o touro e ainda acrescenta que: “matar o touro é
errado!”, impressionando sua amada. Este personagem me interessou pelo valor
que atribui ao animal, mesmo que a não execução dos touros o torne uma vergonha
para a família. Sua real intenção pode ser contestada, já que é implícito que
tal ação agradaria a Maria.
A desconstrução destes personagens
torna a trama mais interessante, pois determinadas ações não podem ser premeditadas
pelos espectadores e os instigam a acompanhar o desenrolar da história. No
confronto final, Manolo prova sua coragem e valores, ajudando sua cidade e
conquistando Maria.
A trama está baseada principalmente na
tradição do Dia dos mortos (Día de los Muertos), que ocorre dia 2 de novembro,
como homenagem àqueles que já morreram. O que me faz perceber o conflito de
determinadas tradições com a conservação do meio ambiente e seus componentes,
como a fauna e a flora. Um exemplo disto é a tauromaquia, que consiste na “Arte
de tourear, a pé ou a cavalo, em tauródromo.”², onde a tortura dos animais se
torna prazerosa, sendo tal “arte” alvo de diversas críticas, sendo 80% dos
mexicanos contra a prática³, contando com um público cada vez menor, comumente
de pessoas mais velhas.
Apesar de o filme exibir itens
voltados à reflexão de valores e atitudes, parte dele me pareceu conflitante,
onde a visão apresentada anteriormente pode ser classificada como globalizante,
segundo a classificação de Reigota (1995)5. Houve cenas em que a
tendência naturalista e a antropogênica ganharam destaque, como quando Manolo e
Maria saem da cidade e estão diante de uma paisagem isenta de elementos
antrópicos, indicando que o ser humano é um observador externo em relação à
natureza; e relacionado à visão antropogênica, temos a seguinte afirmação: “ele
será um matador”, sendo ditas pelo pai de Manolo, referindo-se a necessidade de
matar o touro para honrar sua família.
Assim, encerro minha reflexão e
convido-os a analisar este filme criticamente e, paralelamente, contestar as
tradições e seus reais significados, relacionando-os aos valores atribuídos a
qualquer forma de vida.
¹http://www.festanoceu-filme.com.br/
²http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=tauromaquia
³http://g1.globo.com/natureza/noticia/2014/02/protesto-no-mexico-pede-fim-das-touradas-no-pais.html4http://cescobarecheverri.blogspot.com.br/2015/05/en-contra-de-la-tauromaquia.html
5REIGOTA, M. Meio Ambiente e representação social. São Paulo: Cortez, 1995.
6http://www.guiadasemana.com.br/cinema/filmes/sinopse/festa-no-ceu
7http://cinepop.com.br/wp-content/uploads/2014/10/CinePOp-2.jpg

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