22 de agosto de 2016

Rio 2016 e a “Real” Preocupação com o Meio Ambiente?


Um dos principais assuntos neste mês de agosto foram as notícias sobre as olimpíadas do Rio que chegou ao fim no 21/08, após uma bela abertura dos jogos que além de apresentar um pouco de nossa história, cultura e costumes, tinha como temática a questão socioambiental.  Foi  muito elogiada pelos brasileiros e internacionalmente.

 
O intuito da abertura era fazer o mundo refletir sobre os impactos socioambientais causados por ações antrópicas e as consequências globais destas ações. Após a apresentação de vídeos demonstrando o aumento da temperatura global, impactos do desmatamento, problemas socioambientais, como a ausência de saneamento básico, um garoto caminhou pelo palco em meio de construções e encontrou uma muda de planta (lembrando até mesmo o filme Wall-e, no qual, um pequeno robô Levantador de Carga para Alocação de Lixo – Classe 'Terra'), trabalha sozinho para compactar e organizar todo o entulho deixado pelos seres humanos). Em seguida, cada delegação foi apresentada e seus atletas teriam que plantar sementes para que daqui alguns anos, o Rio de Janeiro ganhasse uma “floresta dos atletas”. Os aros olímpicos foram inspirados na natureza, formados a partir da base utilizada pelos os atletas para plantar as sementes.
 
Muito bonito, sem dúvida, mas fica uma dúvida no ar: será mesmo que os jogos olímpicos praticaram o que tanto defenderam na abertura dos jogos? Acredito que não, pois antes mesmo do início dos jogos já existiam críticas relacionadas às obras da cidade olímpica, e principalmente a construção de um campo de golfe, o qual foi feito em uma antiga área de proteção ambiental. O Rio já tinha dois campos de golfe, mas para o Comitê Olímpico Internacional nenhum era apropriado para as Olimpíadas, sendo que a justificativa da área escolhida para o novo campo foi que este local já estava impactado devida ao desmatamento e ambientalmente degrado. Porém, há controvérsias e até mesmo a construtora responsável pelo projeto foi beneficiada e segundo o ambientalista Marcelo Mello, este afirma que as práticas para manter o campo de golfe são prejudiciais às espécies do local.
 
Outra questão que não está de acordo com o discurso de “ambientalmente correto” é a despoluição da Baía de Guanabara, local que foi utilizado em competições como Vela. Foram realizados grandes investimentos para melhorar a qualidade da água, o que já era esperado há décadas pela população carioca. A meta de despoluição da baía prometida pela prefeitura até 2016 era de 80%, valor não atingido para os jogos. Além da preocupação com o transporte no momento dos jogos, o que também ocasionou a destruição de 200 mil m² da Mata Atlântica.
 
É de conhecimento também que para realização das obras foram apresentados relatórios ambientais simplificados (RAS) sem estudos ambientais mais complexos como a elaboração do Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), segundo a Fundação Heinrich Böll.
 
Nesse sentido, nos cabe refletir sobre o uso do marketing verde no discurso do “ambientalmente correto” que é utilizado em algumas situações, para nos fazer crer que somos uma nação realmente preocupada com as questões socioambientais, mas que na verdade somente mascara uma prática ainda voltada para a manutenção do modelo de desenvolvimento hegemônico atual. 
 
Quanto ao final das Olimpíadas, torçamos para que fique uma maior valorização dos esportes, melhor utilização dos locais construídos e a reflexão sobre nossas atitudes em relação ao meio ambiente.
 
Rafaella Ayllon
Referências 
Cerimônia de abertura movimenta milhões de internautas. Disponível em: https://www.rio2016.com/noticias/cerimonia-de-abertura-movimenta-milhoes-de-internautas
Imprensa internacional elogia cerimônia de abertura dos jogos olímpicos Rio 2016. Disponível em: https://www.rio2016.com/noticias/imprensa-internacional-elogia-cerimonia-de-abertura-do-jogos-olimpicos-rio-2016
Dossiê “Megaeventos e Violações dos Direitos Humanos no Rio de Janeiro Dossiê do Comitê Popular da Copa e Olimpíadas do Rio de Janeiro novembro de 2015 Dossiê Megaeventos novembro de 2015 Olimpíada Rio 2016, os jogos da exclusão” https://br.boell.org/sites/default/files/dossiecomiterio2015_-_portugues.pdf

 

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