A sustentabilidade tem
aparecido nas discussões ambientais e sociais como o grande objetivo a ser
atingido pela conjunção de ações sociais, políticas, econômicas e, sobretudo
ambientais. Como tratamos no texto anterior sobre a “Copa Verde de 2014”,
ilustrada na fala do Presidente da Bolívia, Evo Morales, como uma maneira de
embalar a natureza para vendê-la como mercadoria, muitas vezes encontramos,
atreladas às ações ditas sustentáveis, as iniciativas corporativas,
empresariais e de outros setores do mercado chamadas de “Responsabilidade
Social”. Segundo a UNESCO, Responsabilidade Social é a atuação
voluntária das Empresas e Corporações na contribuição para uma sociedade mais justa
e um ambiente mais limpo. A base desse conceito é a de que as
organizações, ainda que visem o lucro, deveriam orientar suas atitudes e
objetivos não apenas pela decisão de seus proprietários e investidores na busca
pela expansão da lucratividade, mas, também, de acordo com aquilo que é o
melhor para a organização, para a sociedade e para o meio ambiente.
Toda essa ideia parece realmente muito justa e interessante, mas tem muita similaridade com a fala do Presidente boliviano que citamos acima: a Responsabilidade Social tornou-se elemento estratégico das empresas modernas para abrirem novas possibilidades de lucrar num mercado em que os discursos sociais e ambientais têm ganhado mais espaço que as práticas. Inúmeras pesquisas da área de Administração, Serviço Social, Psicologia e Comunicação tem alertado sobre a alteração da base desse discurso como estratégia para perpetuar e esconder, ao mesmo tempo, as práticas ambiental e socialmente degradantes existentes no mercado. A “Filantropia Lucrativa”, como cita um dos estudos publicados em 2009 sobre o tema, tem se tornado a grande janela dessa função dupla da Responsabilidade Social: de um lado abriga o discurso da ética e da ação substancial na sociedade com doações e investimentos em iniciativas voltadas para a comunidade; de outro, une os interesses corporativos com Instituições Filantrópicas cada vez mais ligadas ao marketing e que de alguma forma ajudam a render lucros para a organização ao vincular seu nome à filantropia e vender como mercadoria a imagem de “empresa responsável”. Exemplos disso são os cada vez mais comuns produtos de supermercado que estampam em sua embalagem as proporções de ação filantrópica do tipo “A cada X reais pagos por este produto, Y reais vão para a Instituição Z”.
A grande questão que se coloca aqui é a mesma temática contraditória que se apresenta quando discutimos coleta seletiva, por exemplo, a questão não é reutilizar ou reciclar mais, doar sempre mais do que o valor gasto no consumo, ou ainda consumir e doar de maneira equivalente. É sabido que vivemos numa economia que visa a expansão infinita dos lucros e que pressupõe recursos naturais igualmente infinitos para a produção de uma coleção de mercadorias a serem trocadas por dinheiro (como vimos no texto sobre "Logística Reversa"), dessa maneira concluiríamos que é necessário consumir menos, comprando apenas aquilo que é necessário, extrair menos, produzir menos, reciclar mais, reutilizar mais, abrir novas oportunidades de geração de emprego e renda que não somente a venda da nossa força de trabalho a essas grandes organizações produtoras de mercadorias, e isso atingiria por completo a lógica cega dos lucros cada vez maiores dessas organizações. Se medidas como estas fossem tomadas, a sociedade certamente experimentaria uma elevação da qualidade de vida no âmbito social-ambiental e as organizações, os Governos e o próprio Estado veriam ruir esse discurso de “Responsabilidade Social” que visa esconder todos esses verdadeiros paradigmas que estão colocados na atual sociedade do consumo, este é o motivo pelo qual a Reflexão acerca do nosso papel enquanto cidadão-consumidor é importante e deve ser sempre uma novidade, porque não pode se perder e nem deixar de atuar. O discurso da filantropia, da doação como prática de responsabilidade social e ambiental e o marketing sobre produtos ditos verdes, sustentáveis e etc, devem sempre ser analisados de uma perspectiva crítica, pois mais do que uma mudança do destino do dinheiro que temos para consumir, seja consumindo ou doando, o que a sociedade e o ambiente realmente esperam, e necessitam, é de uma mudança de mentalidade e de atitude como prática efetivadora de uma cidadania social e ambiental.
Pense nisso, e vamos atuar juntos!
Até a próxima,
Rafaella
Ayllón
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