16 de maio de 2016

Moda versus Meio Ambiente: uma perspectiva globalizante

Recentemente fui bombardeada via redes sociais com notícias que traziam como chamada uma atriz hollywoodiana: “Emma Watson usa look feito de garrafas plásticas no baile do MET”, “Calça, corpete e garrafa PET: look de famosa em baile de gala é CHEIO de surpresas”, “Como Emma Watson levou um discurso sobre sustentabilidade ao Met Gala”; entre diversas outras chamadas que traziam o mesmo conteúdo.
O evento em questão era o Baile de gala do Metropolitan Museum of Art (Museu de Arte Metropolitana) - MET, que ocorre anualmente em Nova York, sendo conhecido pelos looks temáticos e de gala, ambos marcantes, que atravessam o tapete vermelho. No “mundo da moda” este evento é muito esperado, visto que marca a abertura de uma nova exposição no Costume Institute (Instituto do Vestuário), área voltada ao assunto no museu, que abordará o impacto da tecnologia na moda¹². Neste ano, o evento se realizou no dia 02 de maio, com a respectiva temática: “Manus x machina: fashion in an age of technology” (Mão x máquina: moda na era da tecnologia)1234.

Desta maneira, a atriz apresentou-se com um traje que fora constituído por resíduos do plástic, que contaram com a parceria de duas grandes marcas. A estratégia utilizada é conhecida como logística reversa, que visa a destinação de resíduos ambientalmente adequada, assim como minimizar a geração de resíduos, reincorporando-os no processo produtivo, quando possível.
Primeiramente, é positivo do ponto de vista socioambiental, observar que a roupa pela qual a atriz optou gerou mais impacto midiático que os demais trajes, principalmente porque tal “look” foi utilizado em um evento de moda. A atriz conceituou a sua escolha a partir de sua página no Facebook5, explicando que o plástico é um dos maiores vilões do meio ambiente.
Refleti, então: estaríamos mais sensíveis aos impactos que nossas ações causam ao meio ambiente? Ou este seria apenas um mercado a ser explorado?
Atualmente a indústria têxtil apresenta extrema dependência dos insumos que o meio ambiente provê,
principalmente a água, visto que para a produção de um quilo (1Kg) de tecido, são necessários cento e cinquenta litros (150 L) de água (LEÃO et. al., 2002)6, e infelizmente, estes valores não são os mais alarmantes para o consumo, visto que abrangem apenas uma etapa do processo produtivo. Este setor industrial gera inúmeros impactos ambientais além do consumo de água, gerando resíduos líquidos, que podem conter substâncias químicas, provenientes do tingimento, branqueamento, acabamento e demais substâncias7, e contaminar corpos d’água e solos, quando não são devidamente tratados, prejudicando a dinâmica ecossistêmica. Outra abordagem relacionada, refere-se à escala de produção, como já é sabido por nós, consumidores, a quantidade de peças produzidas é gigantesca, haja vista a quantidade de itens que nossos guarda-roupas suportam.
A discussão acerca da indústria têxtil abrange diversas esferas, não apenas a abordada referente à utilização de plástico, mas também, envolvendo o sistema capitalista, de maneira geral, que estimula o consumo desenfreado sem atentar-se à matéria prima do qual provém, e outras, que se utilizam da mídia e pessoas influentes para divulgar tais posturas como “dentro do padrão” e “modernas”. A desconstrução deste ideal e a proposição de uma nova postura sustentável demonstra a perspectiva globalizante, proposta por Reigota (1995)9, abrangendo nossa atenção às questões ambientais.
Independentemente do real objetivo que embasou a escolha da atriz a proporcionar tal mobilização, esta atingiu um grande número de pessoas, que podem não ter mudado sua postura frente à situação atual, mas proporcionou, no mínimo, alguns minutos de reflexão, de maneira a instigar a construção de uma maior consciência ambiental frente ao consumo.
Quem sabe o próximo tema do Baile de Gala do MET não seja: “Moda versus Meio Ambiente: uma perspectiva globalizante”? Emma Watson já estaria preparada!

 Aline Vicentin

 Referências bibliográficas e imagens:


2 http://revistadonna.clicrbs.com.br/moda/met-gala-2016-com-taylor-swift-como-anfitria-tradicional-baile-tera-como-tema-limites-entre-moda-e-tecnologia/

3 http://ego.globo.com/moda/noticia/2016/05/veja-os-looks-das-famosas-no-tapete-vermelho-do-baile-de-gala-do-met.html





8 http://veja.abril.com.br/noticia/entretenimento/emma-watson-usa-vestido-feito-de-garrafas-plasticas-no-baile-do-met

9 REIGOTA, M. Meio ambiente e representação social. São Paulo: Cortez, 1995.

10 http://www.entendademoda.com.br/2015/09/entenda-de-moda-etica-moda-consciente-e-moda-sustentavel.html

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