20 de junho de 2016

Alienação Sensorial e a Problemática Ambiental


Compramos produtos nos supermercados, escolhemos marcas, sabores, entretanto desconhecemos a origem e os processos pelos quais os alimentos passaram até chegar às prateleiras. A maioria dos produtos são industrializados e conferem ao consumidor a ideia de ganho de tempo, uma vez que não requer grandes esforços para o seu preparo, isto é, quando requer algum preparo.
 Se por um lado as tecnologias trouxeram rapidez, flexibilidade e fluidez, por outro, elas reforçaram a desvinculação entre experiência, vivencia, produção e consumo, características que refletem o mundo atual e afetam a vida social e a relação com o meio ambiente.
Hoje em dia, sabemos cada vez menos sobre o caminho percorrido pelos alimentos até chegar a nossa mesa. Ao perdermos contato com a produção do mesmo, perdemos também a noção acerca das exigências de cada planta como, período de plantio e colheita ou tempo de amadurecimento. Por isso, quando chegamos aos supermercados ou feiras, vemos e compramos sempre os mesmo produtos, isso porque a produção se da de acordo com a demanda e não segundo a disponibilidade sazonal de cada alimento. Assim, muitas pessoas que tenham manga como fruta preferida, por exemplo, querem consumi-las o ano inteiro, mas desconhecem sua “época” que é dezembro e janeiro. Ou seja, falta-nos a experiência para que tivéssemos tais conhecimentos.  
Já parou para pensar que a cozinha da casa dos seus avós ou pessoas mais velhas são maiores do que as cozinhas atuais? Isso pode ser um reflexo da transformação da relação que possuímos com aquele ambiente que exige paciência, cuidado entre muitas habilidades. Ou seja, já perdemos a experiência da produção dos alimentos e cada vez mais estamos perdendo o contato com o seu preparo. Isso pode ser evidenciado pelo aumento do número de opções de deliverys com a facilidade de aplicativos de celular, por exemplo, e o aumento de produtos prontos e semiprontos, enlatados e congelados.
No mesmo cenário, podemos perceber que muitas crianças não conhecem frutas ou verduras comuns, mas conhecem bem os alimentos industrializados. Esse é um fenômeno que vem crescendo tendo em vista, por exemplo, a velocidade exigida aos pais pela sociedade que os deixa com pouco tempo disponível para repassar aos filhos a valorização da relação alimentar que envolve produção, preparo e alimentação saudável. Além disso, as crianças são alvo do mercado de consumo e das propagandas vinculadas a personagens de desenhos, filmes, grupos musicais, entre outros, visto que o público infantil é um consumidor em potencial. Essa temática pode ser observada no documentário “Muito Além do Peso”, disponível no link abaixo.
 


Tudo isso revela a nossa perda de experiência como ato de experimentar e conhecer o processo de construção ou elaboração de algo. Sendo a experiência necessária para valorização e perpetuação do patrimônio histórico cultural bem como a relação de pertencimento à natureza.
O artificial sobrepõe cada vez mais o natural. As tecnologias propõem maiores facilidades e comodidades a cada novo dia. Por outro lado, como colocou Walter Benjamin estamos gradativamente “pobres de experiência”, refletindo na qualidade de Vida, tendo em vista uma visão planetária.

Daniele Bispo
Referencia Bibliográfica

BENJAMIN, W.; Experiência e Pobreza in Magia e Técnica, Arte e Política: Ensaios Sobre Literatura e Cultura – Obras Escolhidas, Vol. 1 - Editora Brasilienses, 1987.

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